O medo das próprias entranhas

Há um medo antigo, costurado nas fibras do ventre,


plantado como semente silenciosa nas entranhas das mulheres.

Um medo que não nasceu nelas, mas foi semeado, com mãos frias, palavras cortantes e silêncios impostos.

É o medo do desejo,
o pavor da fome que sobe pelo corpo como serpente dourada.
Medo da intimidade consciente
E do poder que ela evoca,
da força que ela desperta,
da memória que ela reacende.

Dentro de cada mulher, uma memória
enjaulada por séculos de vergonha e repressão.
Mas a carne da loba ainda pulsa.
Ela se contorce nos ossos,
grita nos sonhos,
A mulher sabe.

Lembra — mesmo soterrada —
das danças ao redor do fogo,
dos toques que curavam,


do prazer que abria portal.

E o Tantra sussurra:
a intimidade é inteira
o corpo é templo,
o êxtase é oração.

Há um retorno acontecendo.
Lento, feroz, inevitável.
Mulheres estão descendo aos seus subterrâneos,

encarando demônios vestidos de pudor,
E carcereiros fantasiados de moral.

Estão acendendo velas nas cavernas do corpo
e redescobrindo que prazer não é pecado — é poder.
Deixando de temer o poder
A medida que deixam de temer o prazer.

A que se cura, cura sua linhagem.
A que se toca, toca o cosmos.
A que se ama, renasce


com olhos de brasa e útero florido.

Estamos voltando.
Inteiras. Ardentes.
Indomáveis.
E de tão selvagens, mais sábias
E feitas de Amor.

Aysha Almeé

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By Aysha Almeé

Mulher, artista, curiosa e mergulhadora de si. Dançarina do Ventre, Dançaterapeuta, Terapeuta Tântrica e Renascedora. Formada em Farmácia, Naturopatia e pós graduada em Terapia Corporal Reichiana. Eterna estudante de Medicina Tradicional Chinesa, Tantra

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