Dia das Mulheres – Hoje não tem parabéns

Todo mês de março fico pensativa. O tal dito “mês da mulher” me traz muitas sensações e reflexões, e esse veio de forma ácida.
Escrevi, guardei uns textos, joguei fora outros, separei fotos…
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Essa, por exemplo, que fez parte de um trabalho artístico bem forte que fiz com o fotógrafo Gabriel Weng, a primeira vez que postei, recebi 3 mensagens:
um evangélico que dizia: “a espada da inquisição recairá sobre você”.
A outra: “isso só é bonito no puteiro de onde você veio”.
E a terceira mensagem tinha foto de um pênis ereto me sugerindo trocar a rosa do meu corpo por ele.

Vivemos num tempo em que a religião e o pênis (e tudo que ele representa) ainda são usados para machucar mulheres.
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Hoje fico triste de lembrar que no ano passado, duas mulheres dançarinas do nosso meio foram atacadas por ex maridos #venuspresente #anadiaspresente
Muitas ajudaram com dinheiro, com rezo, cada uma o fez como podia.
As duas estão há meses em coma. Talvez nunca mais dancem porque resolveram seguir a vida sem os parceiros abusivos.
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Hoje também tem #magópresente dançarina de 20 e poucos anos, foi acampar e nunca mais voltou para casa. Seu corpo com marcas de violência sexual é estatística de feminicídio.

E com as pets, acontece cada coisa… há 1 ano atrás recolhi uma gatinha na rua, estava prenha e o seu tutor resolveu abandoná-la, não castrou a pet domesticada.
Fêmeas usadas para reprodução ou abandonadas por manifestar O Grande Milagre. Os tutores chutam o milagre da vida e vão a igreja no dia seguinte.
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E pra intensificar as minhas sensações, entre textos e fotos, inicio o mês de março menstruando bem na lua cheia… Ventre inchado, vendo escorrer acidez pelas pernas.

Tenho constrangimento de dar parabéns.

Essa semana presentearei minhas alunas com aulas de dança. Assim, também me dou um presente, afinal também sou mulher, e presente divino é esse de relembrar seres dançantes de sua natureza bela e milagrosa.

Hoje tem dança e tem rezo, tem textão, mas não tem parabéns.
Nem foto glamurosa de dança do ventre.
Mas amanhã terá!
Para todas, há de ter!
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Aysha Almeé
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Click de Gabriel Weng